domingo, 25 de maio de 2014

um pouco da minha história de Adoção

O Grande ABC tem hoje 26 crianças destituídas do poder familiar e disponíveis para ganhar um novo lar, segundo o Cadastro Nacional de Adoção. Elas representam 6% do total de ao menos 398 crianças abrigadas na região (São Caetano não informou o número) hoje, quando se comemora o Dia Nacional da Adoção. Isso não significa que todas viverão até se tornar adultas em abrigos. Especialistas garantem que a prioridade é retomar os vínculos com a família de origem.
Segundo o integrante do Condeca (Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente) e coordenador da Comissão da Infância e Juventude da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) São Bernardo, Ariel de Castro Alves, a adoção deve ser a última opção, mas, conforme a Lei 12010/2009, a situação do menor precisa ser resolvida no prazo máximo de dois anos.
Alves explica que em alguns casos pode ser difícil cumprir o período devido à dificuldade de adoção de crianças com mais de 7 anos e também pela falta de equipes e estrutura nas varas da Infância e Juventude. “Há fragilidade das políticas sociais, que faz com que muitas crianças e adolescentes fiquem abrigados pela ausência de apoio nas áreas de Habitação, transferência de renda, entre outras. Isso acaba por ocasionar episódios de abandono e negligência, situações de solução complexa.”
No caso do não cumprimento do prazo, o juiz precisa justificar as causas, conforme explica Luiz Carlos Ditommaso, da Vara da Infância e Juventude de São Bernardo. “Trata-se de uma medida de relativa obediência e que tem dois lados. Há pessoas que estão comprometidas, que fazem tudo o que a Justiça determina, mas, no prazo de dois anos, ainda estão em tratamento contra as drogas, por exemplo, ou aguardando unidade habitacional. Nestes casos, o prazo pode ser estendido.”
Porém, a prioridade à família biológica, na opinião de Ditommaso, pode se tornar um entrave. “Um exemplo é o caso de um pai que abandonou a criança por dois, três anos no abrigo e, quando vamos proceder com a destituição familiar, ele aparece para apresentar defesa. Assim, a criança permanece por mais tempo no acolhimento e não pode ser encaminhada para adoção. O menor cresce e vai ficando cada vez mais complicado encontrar uma família por conta das exigências dos pretendentes.”
Na opinião da coordenadora da Comissão da Infância e Juventude da OAB Santo André, Shirley Van Der Zwaan, essas exigências em relação ao perfil da criança vêm mudando. Ela foi adotada tardiamente, aos 7 anos, por um homem solteiro estrangeiro. “As pessoas ainda têm preferências, mas os 141 grupos de apoio à adoção no País auxiliam os futuros pais a perceberem que crianças de qualquer idade são capazes de gerar e retribuir o mesmo amor.”
Shirley é uma das coordenadoras do grupo Laços de Ternura, que existe há 13 anos em Santo André. A proposta, segundo a assistente social do grupo, Maria Inês Villalva, é prestar orientação social, jurídica e psicológica. “Quando se resolve adotar, adota-se também seu passado, presente e futuro. Assim como um bebê gestado e parido tem sua própria personalidade, a criança adotada também.”
Para evitar a angústia gerada pelo processo de adoção, que pode se estender por anos, a psicóloga Kelly Cristina Macedo Amaral indica sempre a terapia. “A criança adotada não pode ser uma substituta para um filho biológico. Adotar é um ato de amor.”
''''''''Foi amor à primeira vista'''''''', garante mãe adotiva de jovem
A chegada de Natacha à casa da família Godoi foi uma surpresa. Ela era aluna da filha do casal Maria Aparecida Hortêncio Godoi e Odair Godoi, ambos de 62 anos, em creche de Santo André. “Ela tinha 1 ano e meio e vivia em abrigo. Minha filha era muito afeiçoada a ela e resolveu trazê-la para passar o Natal e o Ano-Novo com a gente. Na hora eu disse que não queria”, lembra a mãe, com lágrimas nos olhos.
Ao chegar do trabalho naquele dia, há 11 anos, ela se deparou com a pequenina criança de cabelos encaracolados dormindo num colchão ao lado de sua cama. “Foi amor à primeira vista.”
A família lutou para conseguir a adoção da menina. O processo foi doloroso e gerou muita ansiedade, já que, pela ausência de cadastro do casal para adoção na época, a chance de que desse certo era de apenas 1%. Com a Lei da Adoção de 2009, famílias sem o cadastro não podem adotar, conforme explica o juiz Luiz Carlos Ditommaso. “É uma forma de evitar crimes como a venda e o tráfico de crianças”, destaca o responsável pela Vara da Infância e Juventude de São Bernardo.
Enquanto esperava os processos judiciais, o casal buscava Natacha para passar todos os fins de semana com a família. “Quando a deixávamos no abrigo na segunda-feira, a sensação era que a estávamos abandonando ali.”
A família tem orgulho de contar sua história, documentada em álbum de fotos e textos por Maria Aparecida, e que Natacha faz questão de levar à escola sempre que inicia o ano letivo com outra turma. Tímida, ela garante ter orgulho de ter sido escolhida pela família. “Gosto muito dos meus irmãos”, diz ela sobre os outros três filhos do casal, a mais nova com diferença de 22 anos para a caçula.
Godoi garante que a adoção foi a melhor coisa que eles fizeram. “Muita gente diz que não é o mesmo amor, mas eu garanto que é. Ela é minha filha tanto quanto os que eu gerei.”
Após aposentadoria, casal quer realizar sonho de adotar
Desde adolescente, a hoje relações públicas aposentada Nanci Mayumi Kobayashi, 51 anos, sonhava em adotar uma criança. “Ia a abrigos trabalhar como voluntária. Doei brinquedos e bonecas para os pequenos. Sempre me afeiçoei a eles.”
Com a gravidez tardia do primeiro filho, atualmente com 8 anos, ela e o marido, o professor aposentado Laércio Bermudes, 69, resolveram agora adotar uma criança. “Não temos exigências de raça. Queremos apenas que seja menina, e tenha a partir de 8 anos”, explica Bermudes.
O casal acredita que agora, com ambos aposentados, terá mais tempo para dedicar aos filhos. “Sempre pensei em ter uma família grande. Quero realizar esse sonho”, garante Nanci.
Eles, inclusive, estão dispostos a adotar mais de uma criança, no caso de irmãos que, preferencialmente, não podem ser separados, conforme a Lei 12010/2009. “Se a criança que nos indicarem tiver irmãos, só digo uma coisa: que venha. Na hora certa vai acontecer o melhor para nós. Nada é por acaso”, opina Bermudes.




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